O mercado imobiliário de British Columbia, conhecido por ser extremamente competitivo e difícil, está agora propondo novas políticas para proteger os compradores. Com as modificações, agora existe um período no qual os compradores podem voltar atrás e desistir da sua compra sem consequências de quebra de contrato.

A Property Law Act, que é a legislação vigente que cuida do sistema imobiliário na província, foi proposta modificação no último dia 28 de março, conforme anunciada pela ministra das finanças Selina Robinson, quer garantir uma maior proteção para aqueles que decidem aceitar contratos com altos valores, mas não possam cumprí-los. Em um período que ainda está para ser decidido, mas espera-se que seja de 7 dias, os compradores poderão voltar atrás em sua decisão.

“As pessoas precisam de proteção enquanto fazem uma das maiores decisões financeiras de suas vidas. Em nosso mercado super aquecido, vemos compradores ignorando condições apenas para serem considerados no contrato, e novos donos de casa descobrindo problemas com alto custo para serem solucionados apenas depois de fechar o acordo”, afirmou a ministra.

De acordo com dados da própria província, mais de 70% dos acordos foram feitos sem condições legais, o que prejudica muitas vezes os compradores. Com esse tempo à sua disposição, é possível agora que eles possam garantir um financiamento seguro e inspeções na nova casa antes de decidir fechar a compra.

O CEO e presidente do Mortage Professionals Canada, Paul Taylor, vê a medida como benéfica para o mercado imobiliário de BC. “A introdução de um período de espera curto, sem exigências, ou um período longo e separado, específico para garantir o financiamento, pode ser o necessário para tirar a incerteza de vários acordos, além de poupar vários gastos a ambos vendedores e compradores de imóveis”.

Porém, isso pode não ser o suficiente para mudar a situação. O Professor Tsur Sommerville da Sauder Business School, na University of British Columbia, afirma que embora a medida dê um tempo para maior diligência aos compradores, também abre espaço para que eles possam criar ofertas sem consequências, prejudicando agora os vendedores.

“Você precisa ter uma forma de que é necessário ter dinheiro o suficiente em jogo caso alguém desista do acordo. Se sua noção é de que essas medidas vão resolver os problemas de preços mais acessíveis, esse não é um bom caminho para escolher”, afirmou o professor.

Aumentos de juros afetando o mercado

Algo que é observado, de certa forma, é que o mercado imobiliário já está esfriando. Com os recentes aumentos das taxas de juros, com a intenção de evitar um colapso da economia no período de reabertura comercial, as procuras no mercado acabam por diminuir.

O Banco do Canadá está “preparado para agir forçadamente” para conseguir domar a inflação, de acordo com sua vice-governadora Sharon Kozicki. Previsões do Canadian Imperial Bank of Commerce também indicam que seus próprios juros podem sofrer um aumento de até 2,25% de juros até o final de setembro de 2023.

E, inegavelmente, essas mudanças vão acabar por afetar os preços imobiliários em todo o país. Porém, outros fatores como a baixa de preços durante a pandemia do COVID-19 e o constante aumento da população também são fatores que afetam a situação, como um todo.

“A nossa quantidade de imóveis não é o suficiente para acompanhar as mudanças demográficas e o crescimento da população. Com as casas em si sendo escassas, os preços vão continuar a subir”, afirmou Michael Bourque, CEO da Canada Real Estate Association.

Porém, outros acreditam que esses aumentos podem apenas causar um congelamento nos preços. O gestor de carreiras e escritor Hilliard MacBeth acredita que essa rápida correção é necessária para conter a inflação, mesmo que acabe estourando a “bolha imobiliária” que ele acredita existir no país há alguns anos, assunto de um dos seus livros.

O economista Stephen Brown escreveu recentemente sobre como o aumento de taxas de juros podem acabar “derrubando” o mercado imobiliário, e que acredita que o Banco do Canadá pode até ser mesmo capaz de uma pequena diminuição nos preços de imóveis como forma de afetar a inflação. 

Uma queda pequena de 5 a 10% nos preços seria tolerável, e não quebraria a economia, de acordo com Brown, e ainda seria o suficiente para “retirar um pouco do aquecimento do mercado”.

Ele também afirmou não acreditar que o Banco do Canadá será tão duro quanto o FED foi nos Estados Unidos. Por lá, as previsões para as taxas de juros é que elas continuem a aumentar durante o ano todo. 

No Canadá, sua expectativa é que as taxas cheguem a um aumento de 1,25% antes de pararem para ver os impactos na economia. “Acredito que o banco dificilmente irá realizar um aumento acima de 2% sem acabar causando grandes problemas no mercado imobiliário”, conclui.

Segundo a Karen Costa, realtor (corretora de imóveis) em BC, existem várias mudanças que estão que estão por vir, pendentes a serem aprovadas, que podem auxiliar na redução do preço dos imóveis, como aumento dos juros, maior transparência para potencias compradores com o fim do “blind bidding” nas  múltiplas ofertas feitas nos imóveis, potencial banimento de compradores internacionais por 2 anos (com excessões), taxação em venda de imóveis comprados há menos de 1 ano, entre outros. Ainda segundo Karen Costa, na região da Grande Vancouver, os locais que provavelmente sentiriam o impacto primeiro seriam Langley, Surrey e Maple Ridge, cidades que tiveram maior aumento do valor dos imóveis durante a pandemia. Por mais que tais medidas possam trazer algumas melhorias, o que o mercado imobiliário de fato precisa é a construção e oferta de mais imóveis.